El túnel (1988) - o narcisismo presente na lógica do túnel


Título Original: El túnel

Ano de Lançamento: 1988

Direção: Antonio Drove

Roteiristas: Ernesto Sábato, Carlos A. Cornejo e José A. Mahieu

Duração: 1h:47min

Países de Origem: Espanha

A adaptação cinematográfica de El Túnel (1988), dirigida por Antonio Drove, configura-se como uma exploração cirúrgica da paranoia, do narcisismo e do isolamento subjetivo, transpondo para as telas a densa atmosfera existencialista da obra de Ernesto Sabato. Diferente de obras que buscam o horror no externo, este filme encontra sua força na descida ao abismo psicológico de Juan Pablo Castel, cuja jornada é marcada por uma busca desesperada, e fatal, por uma conexão humana absoluta que rompa sua solidão ontológica.

O cerne da trama reside na obsessão de Castel por Maria Iribarne, que surge não como uma mulher independente, mas como o que Jacques Lacan definiria como o "objeto a", o objeto causa de seu desejo e a promessa de cura para seu isolamento. Para o pintor, Maria é a única capaz de atravessar a distância representada pela "pequena janela" em sua obra; no entanto, essa percepção é puramente projetiva. Castel não ama Maria, mas sim a ideia de ser compreendido por ela, transformando-a em uma extensão de seu próprio ego narcísico. Quando ele descobre que ela possui uma vida fora de seu controle, simbolizada pelo casamento com Allende, um homem cego, ele entra em um colapso paranoide onde cada gesto dela é interpretado sob uma lógica hiper-racional e doentia, típica de quem vê o mundo como uma conspiração constante.

A metáfora do título sintetiza a falência da alteridade no protagonista: Castel acredita viver em um túnel escuro e solitário, e sua tragédia reside na tentativa violenta de fundir seu caminho ao de Maria. Ao contrário de outros personagens cinematográficos que buscam a cura pela palavra, Castel utiliza a linguagem como uma ferramenta de tortura e interrogação, tentando extrair uma verdade totalizante que nunca o satisfaz. A violência final não nasce de um ódio comum, mas de uma necessidade desesperada de interromper a angústia de não possuir a totalidade do pensamento do Outro. Ao destruir Maria, Castel sela seu destino, transformando seu túnel mental em uma prisão física e definitiva.

Em última análise, o filme de 1988 consegue traduzir a angústia de que o ser humano está condenado a ver o mundo através de sua própria janela, sem nunca realmente acessar a subjetividade alheia. É um estudo sombrio sobre como a busca pela conexão, quando mediada pela obsessão e pela incapacidade de aceitar a autonomia do outro, inevitavelmente deságua na aniquilação.

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