August Underground's Penance (2007) - ou a psicopatologia da banalidade do mal
Direção: Fred Vogel
Roteiristas: Allen Peters, Fred Vogel e Cristie Whiles
Duração: 1h:24min
País de origem: EUA
Dirigido por Fred Vogel, este é o terceiro e último capítulo da trilogia August Underground. É necessário abordar esta obra não apenas como um filme, mas como um artefato do movimento "Extreme Cinema", que desafia as fronteiras entre a arte, o choque e o voyeurismo.
A crítica de Penance começa obrigatoriamente pela sua forma. Diferente de filmes de terror convencionais que utilizam trilha sonora, cortes dramáticos e iluminação para guiar o espectador, a obra de Vogel utiliza uma estética de vídeo caseiro (lo-fi) que busca mimetizar a realidade da forma mais crua possível.
No longa, o espectador não é apenas um observador; a câmera é operada pelos próprios assassinos (Peter e Crusty). Isso cria uma sensação nauseante de cumplicidade. O horror, por sua vez, é o propósito. Não há heróis, não há justiça e, fundamentalmente, não há sentido.
Do ponto de vista psicológico, o filme é um estudo sobre a banalidade do mal. Em August Underground's Penance a violência é recreativa.
Os protagonistas não são "vilões" de cinema com planos mirabolantes; eles são retratados como indivíduos vazios, cujas interações sociais são mediadas pelo ultraje. A violência sexual e a tortura são apresentadas com a mesma casualidade com que alguém faria um lanche. Essa desumanização é o que torna o filme genuinamente perturbador: ele remove o "glamour" do serial killer cinematográfico e o substitui pela feiura da psicopatia real.
É impossível criticar este filme sem mencionar o trabalho de efeitos especiais de Fred Vogel e sua equipe (ToeTag Pictures). Para o orçamento que possui, o realismo das mutilações é alcançado com uma precisão que beira o desconfortável.
A intenção aqui é o hiper-realismo. O filme brinca com a lenda urbana dos "snuff movies" (filmes de mortes reais), tentando convencer o espectador de que o que ele está vendo não passou pelo filtro da ficção. Para muitos críticos, isso não é entretenimento, mas sim um teste de resistência técnica e psicológica.
O título sugere um arrependimento ou um acerto de contas, mas o filme entrega o oposto. A "penitência" parece ser do próprio espectador por ter chegado ao fim da trilogia. Há uma autodestruição latente no grupo de assassinos; a dinâmica entre eles começa a ruir sob o peso da própria depravação, mas não há redenção.
August Underground's Penance é uma obra de nicho extremo. Como cinema, ele cumpre seu objetivo técnico com maestria: ele quer repelir, enojar e alienar. Sua importância reside na exploração do limite do que pode ser mostrado. Ele serve como um espelho escuro para a curiosidade mórbida humana. Ao abdicar de qualquer estrutura narrativa ou desenvolvimento de personagem que vá além do sadismo, o filme corre o risco de se tornar monótono. O choque, quando contínuo, gera apatia.
É um filme que não se "recomenda" no sentido tradicional. É um objeto de estudo para entusiastas do horror extremo e dos efeitos especiais, mas para o espectador comum, é uma experiência de niilismo puro e vazio.
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