Frederico Lima #33

"Eu não teria me apaixonado assim, desse jeito, se você tivesse ficado na sua, não sorrisse nem olhasse pra mim. Eu teria ficado bem se você não me desse bola, não falasse comigo, não se importasse com minha existência, não me desse “Oi!”. E, quem sabe, se você não gostasse das mesmas coisas que eu, mas você é tão do contra, que resolveu me tocar bem lá no fundo, mesmo sem, ao menos, encostar em mim. E eu, de boba, fui me acostumando com o teu cheiro de Malbec, com tua voz, com teu sorriso, mesmo que fosse te admirando de longe, por causa dessa minha maldita timidez. Maldita, bendita, nem sei, até porque esse meu jeito acanhado, sempre na minha, já me livrou, provavelmente, de ter me decepcionado com caras que não valeriam a pena, de ter acreditado em sentimentos artificiais, esses que duram até a primeira briga."

Do livro Garota Labirinto, de Frederico Lima


"Os Arruinados pelo êxito" (1916)

"O trabalho psicanalítico proporcionou-nos a tese segundo a qual as pessoas adoecem de neurose como resultado de frustração. Referimo-nos à frustração da satisfação de seus desejos libidinais, fazendo-se necessária uma digressão a fim de tornarmos a tese inteligível. Para que uma neurose seja gerada, deve haver um conflito entre os desejos libidinais de uma pessoa e a parte de sua personalidade que denominamos de ego, que é a expressão do seu instinto de autopreservação e que também abrange os ideais de sua personalidade. Um conflito patogênico dessa espécie só ocorre quando a libido tenta seguir caminhos e objetivos que o ego de há muito superou e condenou e, portanto, proibiu para sempre, e isso a libido só faz se for privada da possibilidade de uma satisfação ego-sintônica ideal. Por isso, a privação, a frustração de uma satisfação real, é a primeira condição para a geração de uma neurose, embora, na verdade, esteja longe de ser a única.

Parece ainda mais surpreendente, e na realidade atordoante, quando, na qualidade de médico, se faz a descoberta de que as pessoas ocasionalmente adoecem precisamente no momento em que um desejo profundamente enraizado e de há muito alimentado atinge a realização. Então, é como se elas não fossem capazes de tolerar sua felicidade, pois não pode haver dúvida de que existe uma ligação causal entre seu êxito e o fato de adoecerem." 

Do texto "Os Arruinados pelo êxito", de Sigmund Freud (1916)


Frederico Lima #32

"Espero que você possa entender, e até mesmo destruir, alguns dos meus medos mais bobos e infantis. Espero que você consiga perceber que eu tenho medo de perder tudo aquilo que eu amo, mas que sou orgulhosa demais para admitir. É que eu cansei de correr atrás de quem não me quis, e isso me fez ficar assim, meio receosa, cismada demais. E, por favor, perceba isso por conta própria, pois eu nunca direi para você."

Do livro Garota Labirinto, de Frederico Lima


Frederico Lima #31

"Admito, eu sou frágil em tentar ser forte. Tento não chorar, mas nem sempre eu consigo. É que na minha estrutura de quebra-cabeça faltam alguns pedaços, e esses pedaços me fazem ser assim, incompleto. E nessa minha incompletude diária, eu tento preencher o vazio, quase sempre, com pedaços que não se encaixam direito, por isso eu sofro, por isso eu choro, e é por isso que nós amamos, porque tentamos nos encaixar nos espaços vazios dos outros, buscando preencher os nossos." 

Do livro Garota Labirinto, de Frederico Lima



O que significa pré-genital (prãgenital) para a psicanálise?

Para a psicanálise, o adjetivo "pré-genital" qualifica uma variedade de fenômenos psíquicos, incluindo pulsões, organizações libidinais e fixações, que caracterizam os estágios iniciais do desenvolvimento psicossexual, anteriores ao estabelecimento da primazia da zona genital. Durante esse período, que compreende as fases oral, anal e de latência, o investimento libidinal se concentra em zonas erógenas distintas dos órgãos genitais.

A compreensão do período pré-genital é fundamental na teoria psicanalítica, pois as experiências e as possíveis fixações nessas fases iniciais podem influenciar significativamente a formação da personalidade e a predisposição a certas neuroses na vida adulta. A análise das características pré-genitais em um paciente pode fornecer insights valiosos sobre conflitos psíquicos subjacentes e padrões de relacionamento.



O que significa Reparação (Wiedergutmachung) para a psicanálise?

O conceito de Reparação, central na teoria psicanalítica de Melanie Klein (1882-1960), descreve o esforço psíquico do indivíduo no sentido de restituir e "curar" o objeto amado dos danos imaginários infligidos por suas próprias fantasias destrutivas. Segundo Klein, na dinâmica psíquica primitiva, o indivíduo vivencia impulsos agressivos e destrutivos direcionados ao objeto primário, geralmente a figura materna. Essas fantasias de ataque geram no sujeito sentimentos de angústia e culpa depressiva, relacionados à percepção (fantasiada) de ter prejudicado o objeto essencial para sua sobrevivência emocional e física.

O mecanismo de Reparação surge como uma tentativa de aliviar essa angústia e culpa. Através de um esforço inconsciente, o indivíduo busca reconstruir e reparar o objeto materno, tanto em sua representação interna (o objeto internalizado) quanto em sua realidade externa. Esse processo reparatório fantasístico é crucial para a elaboração bem-sucedida da posição depressiva, um estágio do desenvolvimento psíquico kleiniano caracterizado pela integração do objeto bom e mau em um todo e pela capacidade de sentir preocupação pelo outro.

O sucesso da Reparação fantasística permite ao ego estabelecer uma identificação mais estável com o objeto benéfico, internalizando suas qualidades positivas e fortalecendo a sensação de segurança interna. Em outras palavras, ao reparar o objeto na fantasia, o indivíduo experiencia um alívio da culpa e fortalece sua relação interna com um objeto amado e não danificado, contribuindo para a integração do ego e a capacidade de amar e se importar com os outros de forma mais plena e realista.

Em suma, a Reparação kleiniana não se limita a um mero ato de "consertar" o dano imaginário, mas representa um processo psíquico fundamental para o desenvolvimento emocional saudável, envolvendo a elaboração da agressividade, a internalização de um objeto bom e a capacidade de sentir responsabilidade e cuidado pelo outro.



Colóquio Cecília Meireles e Lúcio Cardoso

 


A alma errante e fugidia do eu lírico encontra na noite escura o (pre)texto para (re)mover a pena. Num processo de eterno retorno Nietzscheano, alucina palavras de in(confidência) em estrutura introspectiva e em atmosfera política. O não-estar e o não-pertencer permitem romper um pesadelo estrutural de modelos (im)postos para explorar o psíquico e o moral. As indagações metafísicas, sociais e intimistas nas escritas de Lúcio Cardoso e Cecília Meireles brincam com a lógica por meio de estruturas simbólicas, ritmos e métricas. Às vésperas do mês dos namorados, oferecemos à Comunidade Acadêmica desfrutar "as mãos da noite quebrando os talos do pensamento."

O LIGEPSI (Grupo de Pesquisa em Literatura, Gênero e Psicanálise da UFPB), em parceria com o Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, o Programa de Pós-Graduação em Letras, o Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, e o Laboratório de Estudos Literários e Psicanalíticos, realizará, no dia 28 de maio de 2025, o Colóquio Cecília Meireles e Lúcio Cardoso, evento que será promovido na modalidade híbrida (on-line e presencial), com vistas a homenagear a literatura intimista de dois dos maiores nomes da escrita ficcional brasileira, Cecília Meireles e Lúcio Cardoso.

A inscrição no Colóquio é gratuita para todas as atividades: palestras, mesas-redondas e simpósios temáticos (para apresentação de trabalhos na modalidade comunicação oral), com emissão de certificação para apresentadores e ouvintes, além da publicação, em formato e-book, dos trabalhos apresentados.