O que significa Imagem inconsciente do corpo para Françoise Dolto?

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A imagem inconsciente do corpo constitui o conceito central e mais inovador da teoria psicanalítica de Françoise Dolto. Pode ser compreendida como uma estrutura psíquica profundamente enraizada e, diferente do conceito de imagem do corpo, é totalmente inconsciente, formada a partir das primeiras e mais fundamentais experiências relacionais do sujeito, especialmente aquelas com os cuidadores primários (geralmente a mãe e/ou o pai, bem como figuras que exerçam essas funções na subjetividade arcaica infantil).

Diferente do esquema corporal (que é universal para a espécie e ligado às funções biológicas), a imagem inconsciente do corpo possui caráter singular para cada indivíduo, pois é forjada na história particular de suas relações e na forma como o desejo do outro se inscreve no corpo da criança, portanto, uma experiência que, mesmo vivenciada por indivíduos que compartilham um mesmo contexto familiar, nunca será erigida da mesmo forma no processo de desenvolvimentos psicossexual, que é único para cada sujeito.

Podemos citar as seguintes características como sendo essenciais da imagem inconsciente do corpo:

  • Encarnação simbólica do sujeito desejante: É a forma como o desejo, as fantasias e os conflitos internos se manifestam e se organizam no psiquismo através do corpo. Ela não é uma mera representação, mas uma vivência do corpo enquanto lugar de ser e de relação;

  • Profundamente relacional: Forma-se a partir da comunicação e das interações com os outros, especialmente na fase inicial da vida, onde o corpo do bebê é lido e investido de significados pelos pais. As castrações simbolígenas (as operações simbólicas que moldam o sujeito, como o desmame ou o controle dos esfíncteres) são cruciais para sua estruturação;

  • Inconsciente: Não é acessível diretamente à consciência, mas se expressa de diversas formas: através do discurso (mesmo que indiretamente, em metáforas, lapsos), dos sintomas corporais (psicossomáticos), dos sonhos, dos desenhos, da forma como a pessoa se move e interage com o mundo;

  • Dinâmica e viva: Embora seja estruturante, ela não é fixa. Está em constante processo de elaboração e transformação ao longo da vida, principalmente em resposta a novas experiências relacionais e a processos simbólicos;

  • Substrato da linguagem: Para Dolto, a imagem inconsciente do corpo é o que permite ao ser humano entrar no universo da linguagem e da simbolização. É a base para a comunicação e para a constituição do sujeito.

Desarte, a imagem do corpo é o que se vê, se percebe e se apresenta do corpo no mundo, ao passo que a imagem inconsciente do corpo é a estrutura psíquica profunda que sustenta e organiza a relação do sujeito com seu próprio ser, seu desejo e sua capacidade de se inserir na linguagem e no mundo das relações humanas. Nesse sentido, Dolto enfatiza que a imagem refletida no espelho (uma forma de imagem do corpo) é apenas um dos estímulos que contribuem para a modelagem da imagem inconsciente do corpo, que é muito mais abrangente e fundamental.

 

Como referenciar esta postagem

O QUE SIGNIFICA IMAGEM INCONSCIENTE DO CORPO PARA FRANÇOISE DOLTO? In: LIMA, Frederico, 2025. Disponível em: <https://www.fredericolima.com.br/2025/07/o-que-significa-imagem-inconsciente-do.html>. Acesso em: dia/mês/ano.

 

 


O que significa Imagem do corpo para Françoise Dolto?

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Na teoria psicanalítica desenvolvida por Françoise Dolto, a imagem do corpo, numa visão mais generalista, refere-se à representação que cada indivíduo possui em relação ao seu próprio corpo. É a forma como nos percebemos fisicamente, incluindo aspectos como nossa aparência, tamanho, forma e como nos sentimos em relação a essas características. Por compreender uma percepção mais externa em relação ao corpo, essa imagem é construída no decorrer do amadurecimento corporal humano, isto é, ao longo da vida do sujeito, sendo influenciada por aspectos como:

  • Experiências sensoriais e perceptivas: Como percebemos nosso corpo através dos sentidos (visão, tato, paladar etc.);

  • Interações sociais: Como os outros nos veem, os comentários que recebemos sobre nossa aparência e como introjetamos essas influências;

  • Idealizações culturais: Padrões de beleza e de corpo estabelecidos e difundidos cuturalmente.

  • Esquema corporal: A representação neurológica e funcional do corpo no espaço, que nos permite realizar movimentos e interagir com o ambiente. Embora relacionado, o esquema corporal é mais uma ferramenta biológica para a ação, enquanto a imagem do corpo é mais complexa e subjetiva.

A imagem do corpo pode ser mais ou menos consciente, e pode mudar ao longo do tempo, influenciada por inúmeros fatores internos e externos como a idade, doenças, mudanças de peso, aspectos culturais etc.

 

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O QUE SIGNIFICA IMAGEM DO CORPO PARA FRANÇOISE DOLTO? In: LIMA, Frederico, 2025. Disponível em: <https://www.fredericolima.com.br/2025/07/o-que-significa-imagem-do-corpo-para.html>. Acesso em: dia/mês/ano.


Frederico Lima #33

"Eu não teria me apaixonado assim, desse jeito, se você tivesse ficado na sua, não sorrisse nem olhasse pra mim. Eu teria ficado bem se você não me desse bola, não falasse comigo, não se importasse com minha existência, não me desse “Oi!”. E, quem sabe, se você não gostasse das mesmas coisas que eu, mas você é tão do contra, que resolveu me tocar bem lá no fundo, mesmo sem, ao menos, encostar em mim. E eu, de boba, fui me acostumando com o teu cheiro de Malbec, com tua voz, com teu sorriso, mesmo que fosse te admirando de longe, por causa dessa minha maldita timidez. Maldita, bendita, nem sei, até porque esse meu jeito acanhado, sempre na minha, já me livrou, provavelmente, de ter me decepcionado com caras que não valeriam a pena, de ter acreditado em sentimentos artificiais, esses que duram até a primeira briga."

Do livro Garota Labirinto, de Frederico Lima


"Os Arruinados pelo êxito" (1916)

"O trabalho psicanalítico proporcionou-nos a tese segundo a qual as pessoas adoecem de neurose como resultado de frustração. Referimo-nos à frustração da satisfação de seus desejos libidinais, fazendo-se necessária uma digressão a fim de tornarmos a tese inteligível. Para que uma neurose seja gerada, deve haver um conflito entre os desejos libidinais de uma pessoa e a parte de sua personalidade que denominamos de ego, que é a expressão do seu instinto de autopreservação e que também abrange os ideais de sua personalidade. Um conflito patogênico dessa espécie só ocorre quando a libido tenta seguir caminhos e objetivos que o ego de há muito superou e condenou e, portanto, proibiu para sempre, e isso a libido só faz se for privada da possibilidade de uma satisfação ego-sintônica ideal. Por isso, a privação, a frustração de uma satisfação real, é a primeira condição para a geração de uma neurose, embora, na verdade, esteja longe de ser a única.

Parece ainda mais surpreendente, e na realidade atordoante, quando, na qualidade de médico, se faz a descoberta de que as pessoas ocasionalmente adoecem precisamente no momento em que um desejo profundamente enraizado e de há muito alimentado atinge a realização. Então, é como se elas não fossem capazes de tolerar sua felicidade, pois não pode haver dúvida de que existe uma ligação causal entre seu êxito e o fato de adoecerem." 

Do texto "Os Arruinados pelo êxito", de Sigmund Freud (1916)


Frederico Lima #32

"Espero que você possa entender, e até mesmo destruir, alguns dos meus medos mais bobos e infantis. Espero que você consiga perceber que eu tenho medo de perder tudo aquilo que eu amo, mas que sou orgulhosa demais para admitir. É que eu cansei de correr atrás de quem não me quis, e isso me fez ficar assim, meio receosa, cismada demais. E, por favor, perceba isso por conta própria, pois eu nunca direi para você."

Do livro Garota Labirinto, de Frederico Lima


Frederico Lima #31

"Admito, eu sou frágil em tentar ser forte. Tento não chorar, mas nem sempre eu consigo. É que na minha estrutura de quebra-cabeça faltam alguns pedaços, e esses pedaços me fazem ser assim, incompleto. E nessa minha incompletude diária, eu tento preencher o vazio, quase sempre, com pedaços que não se encaixam direito, por isso eu sofro, por isso eu choro, e é por isso que nós amamos, porque tentamos nos encaixar nos espaços vazios dos outros, buscando preencher os nossos." 

Do livro Garota Labirinto, de Frederico Lima