A proposta de um dossiê sobre a internacionalização da literatura é provocada pela constatação de que a posição das produções literárias de diferentes países, no espaço da literatura mundial, é desigual e que as literaturas minoritárias travam uma batalha também desigual com as literaturas majoritárias. Como salientou Spivak, as influências culturais emanadas dos centros hegemônicos penetram nos países periféricos com muito mais facilidade: "Na saída dos países metropolitanos, as fronteiras são facilmente atravessadas, enquanto as tentativas de entrada a partir dos chamados países periféricos encontram fronteiras burocráticas e patrulhadas" (Spivak, 2003, 16).
É inegável que a globalização cultural das últimas décadas tem levado à crescente presença de produções literárias de nacionalidades distintas em mercados livreiros de diferentes países, como tem evidenciado os desafios impostos às literaturas de países do Sul Global quando das tentativas de entrada no espaço internacional. A conquista de uma posição de maior destaque no mercado editorial estrangeiro não levou a uma representatividade significativa dessas literaturas na “república mundial das letras” (Casanova, 1999), que abriga majoritariamente escritores de países hegemônicos. Se compararmos a posição da literatura brasileira, por exemplo, com a literatura hispano-americana, que ganhou grande prestígio na Europa e nos EUA já durante o boom das décadas de 1960 e 1970, percebebemos que uma das razões desta situação é a própria língua. O espanhol tem mais do que o dobro de falantes nativos e, ao contrário do português, é uma das línguas oficiais das Nações Unidas. Não é por acaso que leitores e pesquisadores estrangeiros muitas vezes conhecem as obras de autores brasileiros por meio das traduções espanholas. Segundo os dados do Index Translationum, que coleta informações sobre traduções nos países membros da UNESCO, a língua mais traduzida no período 1979-2019 foi o inglês (mais de 1.266.100 traduções). As traduções do espanhol ficaram em 6º lugar (mais de 54.500), enquanto as do português, em 18º lugar (mais de 11.500).
Além da tradução, questões relacionadas à publicação, circulação e recepção se tornam desafios à internacionalização da literatura. Tal constatação resultou em estudos que trazem contribuições valiosas, como os de Pascale Casanova (1999), acerca da “república mundial das letras”, de Franco Moretti (2000), sobre “literatura mundial”, e de Haroldo de Campos (1992), com sua concepção inovadora de tradução. Ganham destaque ainda as reflexões teórico-críticas de estudiosos que problematizam os processos de internacionalização e cosmopolitismo da literatura, a exemplo de Abdala Júnior (2004), Baptista (2009), Lindoso (2017), Magri (2019), Pinto-Bailey (2019), Sánchez Prado (2006), Santiago (1982, 2004) e Spivak (2003).
Frente ao conjunto de questões destacadas, este dossiê almeja a publicação de artigos que problematizam a posição das literaturas minoritárias no espaço internacional, analisando os diversos fatores que contribuem para a sua presença e representatividade.
Organizadoras:
Profa. Dra. Márcia Rios
Profa. Dra. Zuzana Burianová (UPOL/República Tcheca)
Profa. Ma. Anne Victoire Epakbi Belinga (UNEB/PPGEL)
Prazo final para submissão: 05/10/2025
Publicação: dezembro/2025
Para mais informações, acesse: https://revistas.uneb.br/tabuleirodeletras/announcement/view/692