Literatura e viagem compartilham caminhos pelo menos desde os mais remotos registros narrativos, seja como mote para a escrita, seja como relato de experiência. Na Idade Média, Marco Polo fez sonhar com suas Viagens (1298) e, no Renascimento, as grandes navegações engendraram narrativas que não raro pontuaram descrições de terras e gentes com elementos extraordinários,
tantas vezes resultado da imaginação que preenchia as lacunas do conhecimento.
Nos séculos seguintes, a sanha colonizadora continuou a impulsionar viagens
exploratórias e a chamada Literatura de Viagem se consolidou. Muitos autores
que passaram a se dedicar ao tema viram suas
obras se tornarem best sellers e as viagens imaginárias passaram a pleitear o
mesmo status das viagens de fato realizadas. Hoje, as estantes da dita
“Literatura de viagem” misturam Tamara Klink e Jules Verne, um sem-número de
autores de um livro só e, em algumas livrarias, guias de viagem. Será que o
tema da viagem é suficiente para abarcar uma variedade tão grande de obras?
Como ficam as questões identitárias em um contexto crítico aos relatos dos
colonizadores, construídos com imagens criadas sob vieses sempre políticos?
Qual o lugar da memória daqueles que deixaram seus países forçados por
perseguições, guerras e pobreza e empreenderam viagens até mesmo épicas em
busca de uma vida melhor?
Em sentido inverso, num século que
democratizou e popularizou a viagem, alterando completamente as percepções de
distância e acessibilidade, além de introduzir a prática dos relatos de viagem
praticamente em tempo real por meio do compartilhamento ininterrupto de imagens
e vídeos nos diversos veículos disponíveis pela internet, ainda é relevante
pensar a “literatura de viagem” como um subgênero da literatura contemporânea
capaz de atrair um público leitor? Em que medida o mesmo cenário descrito acima
explica a recente explosão de interesse por fantasias e narrativas de mundos
alternativos e paralelos, especialmente para um público mais jovem e ávido consumidor
de literatura, mas também de streaming e redes sociais? Considerando ler e
escrever a viagem como meios de perpetuar a experiência vivenciada em outras terras,
outras culturas, outras linguagens, este dossiê pretende criar um mapa de
estudos sobre a leitura e a escrita da viagem em uma pluralidade de relações
possíveis, como:
- fronteiras ficcionais da literatura de viagem;
- a literatura de viagem enquanto gênero literário;
- a viagem imaginada/ imaginária;
- a literatura de migrantes;
- literatura e memória de viagem;
- imagem e imaginário construídos pela experiência de viagem;
- identidades transitórias relacionadas a experiências de viagem;
- cosmopolitismo, identidade e novas utopias;
- leitura de literatura de viagem.
Organizadores:
Anderson Bastos Martins (UFJF)
Gerson Neumann (UFRGS)
Laura Brandini (UEL)
Submissões até: 15/09/2025
Para mais informações, acesse: https://revistas.usp.br/criacaoecritica/announcement/view/1934