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11/10/2025

Quem foi Albertina Correia Lima?

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Albertina Correia Lima, uma figura proeminente no cenário paraibano e nacional do século XX, nasceu na capital, João Pessoa, no dia 25 de dezembro de 1889, vindo a falecer em 18 de março de 1975, aos 85 anos. Sua trajetória de vida foi marcada por uma notável e multifacetada atuação como educadora, advogada e escritora, combinando o rigor intelectual com um profundo engajamento cívico e social em prol dos direitos femininos e da cultura brasileira. Albertina herdou de sua família um legado de intelectuais e ativistas, o que, sem dúvida, pavimentou o caminho para suas próprias escolhas profissionais e ativistas. Seu pai, Lindolfo José Correia Lima, era professor, advogado e também Deputado Estadual, enquanto seus avós paternos e maternos também exerciam atividades ligadas ao magistério, à advocacia e à política, como o Dr. Lindolfo José Correia das Neves, Deputado provincial e geral, e o Dr. João da Mata Correia Lima, que atuou no magistrado e foi presidente da Paraíba. Esse ambiente familiar, cercado por figuras de destaque no direito, na educação e na política, proporcionou-lhe um arcabouço sólido para a sua formação.

Sua educação formal inicial culminou na Escola Normal, instituição onde, após a conclusão de seus estudos, deu início à sua carreira como educadora, lecionando ali e, paralelamente, no prestigioso Liceu Paraibano. Foi através do magistério que Albertina começou a moldar mentes e a influenciar o futuro de sua comunidade. No entanto, o seu espírito ativo e a sua sede por expressão não se limitaram à sala de aula. Simultaneamente, Albertina Correia Lima iniciou uma prolífica colaboração com a imprensa. Tornou-se uma voz assídua em jornais de circulação tanto regional, como o influente A União, quanto nacional, incluindo veículos de grande peso como o Correio da Manhã e O Jornal. A imprensa, para ela, revelou-se um poderoso instrumento de difusão de ideias e de intervenção no debate público, uma ferramenta que ela utilizaria de forma estratégica ao longo de sua vida para advogar por causas de grande relevância social e política.

O ano de 1931 representou um marco decisivo em sua biografia. Aos 42 anos, Albertina demonstrou sua resiliência e sua ambição intelectual ao buscar a graduação em Direito. Na época, a Paraíba não possuía uma faculdade de curso superior na área, o que a levou a se formar pela Faculdade de Direito do Recife, em Pernambuco. A conclusão do curso de Direito não foi apenas uma realização pessoal, mas a aquisição de um conhecimento técnico profundo sobre a Constituição Brasileira, que ela imediatamente colocou a serviço de uma das lutas mais importantes de sua época: o sufrágio feminino e o direito das mulheres de ocupar assentos na Câmara Legislativa da Paraíba. Albertina Correia Lima transformou sua expertise jurídica em ativismo político, utilizando o conhecimento adquirido para argumentar de forma embasada e incisiva sobre a igualdade de direitos. A imprensa, antes um palco para seus escritos de cunho geral, tornou-se o principal meio de difundir e galvanizar as reivindicações feministas que ela tão apaixonadamente defendia, demonstrando uma coerência admirável entre sua formação acadêmica, sua atuação profissional e seu compromisso ideológico. Sua produção literária e jurídica desse período, em especial a obra A mulher e seus direitos em face da nossa legislação, publicada em 1933, atesta o foco de sua militância e a forma como ela traduzia o direito em ferramenta de emancipação.

Além da atuação individual, Albertina também foi fundamental na organização e institucionalização do movimento feminista em seu estado. Sua dedicação se materializou em 1933, quando a Associação Paraibana pelo Progresso Feminino (APPF) foi fundada, e ela imediatamente integrou a primeira diretoria da entidade, assumindo a posição de oradora. O papel de oradora era crucial, pois a colocava na linha de frente na articulação do discurso em defesa dos direitos da mulher, dando voz às aspirações de um número crescente de cidadãs. Sua influência e seu prestígio se estenderam a outras esferas da vida cultural e intelectual paraibana. Ela foi membro ativo da Associação Paraibana da Imprensa e contribuiu regularmente com artigos e pesquisas para a Revista do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP), mantendo-se sempre ligada aos pilares da comunicação e da memória histórica de sua terra. Adicionalmente, seu senso de responsabilidade social manifestou-se na cofundação do Orfanato Dom Ulrico, em João Pessoa, uma iniciativa que demonstra seu compromisso com a assistência e o amparo social das crianças desfavorecidas. Sua obra abrangeu diferentes gêneros, desde os textos de análise social e jurídica, até escritos como Georgina, estrutura da Terra, publicado em 1922, e as publicações Através da vida e João da Mata, refletindo sua vasta gama de interesses e seu desejo de deixar um legado perene em múltiplas áreas. Albertina Correia Lima, com sua morte em 1975, deixou a Paraíba e o Brasil, mas seu legado como pioneira na educação, no direito e na luta feminista permanece como um testemunho duradouro de uma vida dedicada ao progresso e à defesa dos direitos civis e sociais.


Referências

NUNES, Maria Lúcia da Silva; SILVA, Éricka Domiciano da; MELO, Stelyane de Oliveira. Catharina Moura e Albertina Correia: as continuidades no discurso pelos direitos da mulher. In XI Colóquio Nacional representações de gênero e sexualidades. Disponível em: Acesso em: 11 out. 2025.

SCHUMAHER, Maria Aparecida. Dicionário Mulheres do Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.


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21/09/2025

Augusto dos Anjos: o poeta do "Eu"

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Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914) é um dos nomes mais singulares e perturbadores da literatura brasileira. Considerado um poeta que transita entre o Simbolismo e o Pré-Modernismo, ele chocou a crítica de sua época com uma obra marcada por um pessimismo profundo e por uma linguagem que misturava termos científicos e vulgares.

A Vida e a Única Obra

Nascido na Paraíba, Augusto dos Anjos foi um professor e poeta que viveu uma vida breve, falecendo aos 30 anos de idade. Em vida, publicou apenas o livro de poemas "Eu" (1912). A obra, que inicialmente não teve grande repercussão, foi reeditada postumamente com o título "Eu e Outras Poesias" pelo amigo Órris Soares e, a partir daí, ganhou reconhecimento e se tornou um clássico da literatura nacional.

Um Estilo Único e Controversos

A poesia de Augusto dos Anjos é inconfundível. Influenciado por filósofos como Schopenhauer, sua escrita é permeada por um pessimismo existencial e por temas como a dor, a morte, o horror e a decomposição da matéria. Ele introduziu em seus versos palavras chocantes e agressivas para a época, como "carne", "sangue", "cú" e "verme", que criavam uma experiência de leitura visceral. Essa abordagem, que chegou a ser classificada como "teratológica" (uso de imagens monstruosas), é um dos traços mais marcantes de sua obra.

O Legado e a Popularidade Póstuma

Apesar da repulsa inicial de alguns críticos, o trabalho de Augusto dos Anjos conquistou o público, especialmente por sua originalidade e força expressiva. O seu estilo, que quebrou convenções literárias, exerceu uma grande influência sobre os poetas modernistas que viriam em seguida. Poemas como "Versos Íntimos" e "Saudade" continuam a ecoar e a desafiar leitores, consolidando o poeta paraibano como uma figura central e inesquecível da literatura brasileira.

José Lins do Rego

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José Lins do Rego Cavalcanti (1901-1957) é um dos nomes mais venerados da literatura brasileira, sendo um dos pilares do romance regionalista ao lado de gigantes como Graciliano Ramos e Jorge Amado. Nascido no Engenho Corredor, na Paraíba, sua obra é um mergulho profundo na memória de sua infância, na riqueza do engenho e, sobretudo, na inevitável decadência desse universo.

A paixão pela escrita floresceu durante seus anos na Faculdade de Direito do Recife, onde construiu laços intelectuais importantes, incluindo sua amizade com Gilberto Freyre e José Américo de Almeida. A virada em sua carreira veio em 1926, quando se mudou para Maceió e se juntou a um grupo de escritores que se tornaria a elite da literatura nacional. Foi lá que publicou sua obra de estreia, o aclamado Menino de Engenho (1932), que rapidamente se tornou um divisor de águas e um marco no "novo romance moderno brasileiro".

Sua obra mais emblemática é o "Ciclo da cana-de-açúcar", uma série de cinco livros que explora o declínio do engenho açucareiro nordestino. Esse ciclo é composto por Menino de Engenho, Doidinho, Bangüê, O Moleque Ricardo e Usina. No entanto, sua obra-prima é unanimemente considerada Fogo Morto (1943), um retrato magistral da transição social e da ruína de uma era.

O que torna a escrita de José Lins do Rego tão especial é seu estilo direto e despojado, a profundidade psicológica com que constrói seus personagens e sua habilidade única de capturar a essência da vida na casa-grande e na senzala. Sua contribuição para a literatura foi eternizada em 1955, quando foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. A obra de José Lins do Rego é mais do que um registro de um tempo passado; é uma celebração da memória, da identidade e da força da palavra.