Um Método Perigoso (2011) - Desejo e Razão nas origens da Psicanálise
Título Original: A Dangerous Method (Um Método Perigoso)
Ano de Lançamento: 2011
Direção: David Cronenberg
Roteiro: Christopher Hampton (baseado na peça The Talking Cure)
Duração: 1h 39min
Países de Origem: Reino Unido, Alemanha, Canadá e Suíça
Se você busca um filme que mergulha nas profundezas da mente humana e nas origens da psicologia moderna, Um Método Perigoso (2011) é uma obra indispensável. Dirigido pelo mestre do "horror corporal" e das tensões psicológicas, David Cronenberg, o longa explora o relacionamento tumultuado entre dois dos maiores pensadores da história: Sigmund Freud e Carl Jung.
Ambientado às vésperas da Primeira Guerra Mundial, o filme narra a jornada do jovem psiquiatra Carl Jung (Michael Fassbender) ao tratar Sabina Spielrein (Keira Knightley), uma paciente diagnosticada com histeria. Jung utiliza o método da "cura pela fala", desenvolvido por seu mentor, Sigmund Freud (Viggo Mortensen).
O que começa como um estudo de caso clínico evolui para um triângulo intelectual e emocional complexo. Enquanto Jung se envolve romanticamente com Sabina, desafiando a ética médica, ele também entra em um embate ideológico com Freud. O filme retrata com precisão o nascimento da psicanálise e a ruptura dolorosa entre a visão puramente sexual de Freud e a abordagem espiritual e mística que Jung começava a desenvolver.
A relação entre Carl Jung e Sabina Spielrein é um dos episódios mais complexos e fundamentais da história da psicanálise, marcando o início da transição de Jung de um clínico tradicional para um pensador revolucionário. Sabina chegou à clínica de Burghölzli em 1904, aos 19 anos, apresentando um quadro grave de histeria. Jung, então um jovem médico sob a supervisão de Sigmund Freud, decidiu aplicar nela o recém-criado método da "cura pela fala". O tratamento foi um sucesso sem precedentes: Sabina não apenas se recuperou, como se tornou assistente de Jung e, posteriormente, uma das primeiras mulheres psicanalistas da história.
No entanto, essa cura deu lugar a uma relação íntima e conturbada que ultrapassou os limites profissionais da época. Entre 1908 e 1910, os dois viveram um romance intenso, permeado por uma profunda conexão intelectual e erótica. Para Jung, Sabina era a personificação da "Anima" (o arquétipo do feminino na alma masculina), enquanto para Sabina, Jung era o mestre e amante que a libertou de seu sofrimento psíquico. Essa transferência amorosa, no entanto, gerou um escândalo que quase arruinou a carreira de Jung, levando-o a tentar se distanciar de Sabina de forma abrupta, o que gerou mágoas profundas.
O impacto de Sabina no trabalho de Jung foi perene. Foi ela quem introduziu ideias que mais tarde seriam refinadas por Freud e Jung, como a pulsão de destruição (precursora da pulsão de morte) e a noção de que a perda da individualidade no ato sexual poderia ser uma forma de transformação psíquica. Embora a relação tenha terminado de forma dolorosa, eles mantiveram correspondência por anos. Sabina acabou retornando à Rússia, onde continuou seu trabalho pioneiro com crianças até ser tragicamente executada pelos nazistas em 1942. O reconhecimento de seu papel como musa, teórica e peça-chave no desenvolvimento das teorias de Jung só foi plenamente resgatado décadas depois, com a descoberta de seus diários e cartas.
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