O Iluminado (1980) ou o Hotel Overlook como labirinto psicótico
Título Original: The Shining (O Iluminado)
Ano de Lançamento: 1980
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stephen King, Stanley Kubrick e Diane Johnson
Duração: 2h:26min
Países de Origem: Reino Unido e Estados Unidos da América
Existem filmes que assistimos para nos divertir e outros que assistimos para sermos desafiados. O Iluminado (1980), a obra-prima de Stanley Kubrick, pertence definitivamente ao segundo grupo. Mais de 40 anos após seu lançamento, o filme continua sendo um dos estudos mais profundos do cinema sobre a desintegração da mente humana. Mas o que realmente acontece nos corredores vazios do Hotel Overlook? Seria uma história de fantasmas ou o registro de um surto psicótico?
Em "O Iluminado", o Hotel Overlook não é apenas o cenário; ele é uma extensão da psique de Jack Torrance. O isolamento imposto pelo inverno rigoroso funciona como um catalisador químico que remove as camadas de civilidade de Jack. Sem o contato social e as distrações da vida cotidiana, ele é forçado a encarar seus próprios demônios: o alcoolismo, o fracasso como escritor e uma agressividade latente contra sua própria família.
Diferente do livro de Stephen King, onde o hotel é uma entidade externa que "possui" Jack, Kubrick prefere a ambiguidade. Os fantasmas que Jack encontra (como o barman Lloyd ou o antigo zelador Grady) podem ser lidos como projeções de seu inconsciente. É o que a psicanálise chama de "o retorno do recalcado": tudo aquilo que Jack tentou enterrar (sua violência e seus vícios) volta para assombrá-lo em forma de visões.
A metáfora visual mais forte do filme é o labirinto. Tanto o labirinto de sebes no jardim quanto os corredores geométricos e impossíveis do hotel simbolizam a mente de Jack. Ele está preso em um ciclo de repetição compulsiva.
Isso fica evidente na famosa cena das milhares de páginas datilografadas com a frase: "Só trabalho e nada de diversão fazem de Jack um bobão". Ali, vemos o colapso total da linguagem. Jack não consegue mais criar nada novo; sua mente está em "loop", repetindo uma única ideia vazia até que a razão seja completamente devorada pela pulsão de morte.
Enquanto Jack mergulha na escuridão, seu filho Danny representa a luz e a percepção. O "brilho" de Danny é uma sensibilidade aguçada que o permite ver as verdades que os adultos tentam esconder. Sob uma ótica edipiana, Jack vê em Danny uma ameaça à sua autoridade. O pai, incapaz de proteger e nutrir, torna-se a figura arcaica e devoradora que persegue o novo (o filho) para não ser substituído.
O filme encerra com um dos maiores mistérios do cinema: a foto de 1921 que mostra Jack no centro de um baile de gala. Essa imagem sugere que o mal é cíclico. Jack sempre esteve lá e sempre estará. O trauma e a violência não são eventos isolados, mas padrões que se repetem através das gerações se não forem interrompidos.
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