O que é CHISTE (Witz) para a psicanálise?

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O chiste, em alemão Witz, é um dos conceitos mais fascinantes e reveladores da psicanálise freudiana, sendo uma das chamadas "formações do inconsciente", ao lado dos sonhos e dos atos falhos. Em sua obra seminal de 1905, "O Chiste e Sua Relação com o Inconsciente", Sigmund Freud o eleva de uma simples piada ou gracejo a um complexo fenômeno psíquico e social, demonstrando que ele partilha a mesma origem e mecanismos de funcionamento do sonho. Para a psicanálise, o chiste não é apenas algo engraçado; é uma engenhosa via de escape que permite ao sujeito liberar tensões e expressar desejos ou pensamentos que seriam, de outra forma, severamente reprimidos ou censurados pela consciência ou pela moral social.

A característica central do chiste reside em sua técnica e na economia de gasto psíquico que ele proporciona. A técnica de elaboração do chiste é notavelmente similar à do sonho, utilizando mecanismos como a condensação (a fusão de duas palavras ou ideias em um neologismo, como no famoso exemplo freudiano do "familionário", que combina "familiar" e "milionário") e o deslocamento (a transferência de ênfase ou sentido de um elemento para outro). Essa astúcia linguística permite que um pensamento, muitas vezes agressivo, obsceno ou cínico, seja revestido de um verniz de comicidade, driblando a censura do Super-eu. A satisfação obtida com o chiste vem, primeiramente, da economia de esforço psíquico que seria necessário para manter o conteúdo reprimido. O riso, nesse contexto, é a descarga da energia que não precisou ser utilizada para manter a repressão, um prazer de liberação.

Freud distingue entre os chistes inocentes e os chistes tendenciosos. Os chistes inocentes, ou não tendenciosos, buscam prazer na mera técnica verbal e na astúcia intelectual, no jogo com as palavras e os pensamentos. Já os chistes tendenciosos possuem um propósito mais profundo: eles servem ao desejo, seja ele de natureza agressiva/hostil (como o sarcasmo ou a zombaria) ou obscena/sexual. É nesses chistes que o conteúdo inconsciente se manifesta de forma mais nítida, embora disfarçada. Um dito espirituoso que ridiculariza uma figura de autoridade ou que aborda um tema sexual "proibido" permite uma satisfação substitutiva de tendências que o indivíduo não ousaria manifestar abertamente no discurso cotidiano.

Além de sua função interna, o chiste possui um caráter inerentemente social. Diferentemente do humor, que pode ser fruído a sós, o chiste requer uma audiência; ele precisa de, no mínimo, uma segunda pessoa (o ouvinte) para ser realizado. O chiste cria um laço social, uma cumplicidade entre o proponente e o ouvinte, que ri e, assim, compartilha e valida o prazer da quebra da censura. É preciso "ser da paróquia" para rir de um chiste, o que significa que o riso depende de um substrato cultural e de repressões compartilhadas, cuja suspensão momentânea é o que gera a satisfação. Em um contexto clínico, o chiste do paciente pode ser uma valiosa pista para o analista, revelando, de soslaio, temas e conflitos inconscientes que o sujeito se sente inseguro em trazer à tona de forma direta, funcionando como um breve e relâmpago atalho para o inconsciente

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