Lima Barreto, Foto/reprodução: Wikipédia |
Em uma confeitaria, certa vez, ao meu amigo Castro, contava
eu as partidas que havia pregado às convicções e às respeitabilidades, para
poder viver.
Houve mesmo, uma dada ocasião, quando estive em Manaus, em
que fui obrigado a esconder a minha qualidade de bacharel, para mais confiança
obter dos clientes, que afluíam ao meu escritório de feiticeiro e adivinho.
Contava eu isso.
O meu amigo ouvia-me calado, embevecido, gostando daquele
meu Gil Blas vivido, até que, em uma pausa da conversa, ao esgotarmos os copos,
observou a esmo:
— Tens levado uma vida bem engraçada, Castelo!
— Só assim se pode viver... Isto de uma ocupação única: sair
de casa a certas horas, voltar a outras, aborrece, não achas? Não sei como me
tenho agüentado lá, no consulado!
— Cansa-se; mas, não é disso que me admiro. O que me admira,
é que tenhas corrido tantas aventuras aqui, neste Brasil imbecil e burocrático.
— Qual! Aqui mesmo, meu caro Castro, se podem arranjar belas
páginas de vida. Imagina tu que eu já fui professor de javanês!
— Quando? Aqui, depois que voltaste do consulado?
— Não; antes. E, por sinal, fui nomeado cônsul por isso. —
Conta lá como foi. Bebes mais cerveja?
— Bebo.
Mandamos buscar mais outra garrafa, enchemos os copos, e
continuei:
— Eu tinha chegado havia pouco ao Rio estava literalmente na
miséria. Vivia fugido de casa de pensão em casa de pensão, sem saber onde e
como ganhar dinheiro, quando li no Jornal do Comércio o anúncio seguinte:
"Precisa-se de um professor de língua javanesa. Cartas,
etc." Ora, disse cá comigo, está ali uma colocação que não terá muitos
concorrentes; se eu capiscasse quatro palavras, ia apresentar-me. Saí do café e
andei pelas ruas, sempre a imaginar-me professor de javanês, ganhando dinheiro,
andando de bonde e sem encontros desagradáveis com os "cadáveres".
Insensivelmente dirigi-me à Biblioteca Nacional. Não sabia bem que livro iria
pedir; mas, entrei, entreguei o chapéu ao porteiro, recebi a senha e subi. Na
escada, acudiu-me pedir a Grande Encyclopédie, letra J, a fim de consultar o
artigo relativo a Java e a língua javanesa. Dito e feito. Fiquei sabendo, ao
fim de alguns minutos, que Java era uma grande ilha do arquipélago de Sonda,
colônia holandesa, e o javanês, língua aglutinante do grupo maleo-polinésico,
possuía uma literatura digna de nota e escrita em caracteres derivados do velho
alfabeto hindu.
A Encyclopédie dava-me indicação de trabalhos sobre a tal
língua malaia e não tive dúvidas em consultar um deles. Copiei o alfabeto, a
sua pronunciação figurada e saí. Andei pelas ruas, perambulando e mastigando
letras. Na minha cabeça dançavam hieróglifos; de quando em quando consultava as
minhas notas; entrava nos jardins e escrevia estes calungas na areia para
guardá-los bem na memória e habituar a mão a escrevê-los.
À noite, quando pude entrar em casa sem ser visto, para
evitar indiscretas perguntas do encarregado, ainda continuei no quarto a
engolir o meu "a-b-c" malaio, e, com tanto afinco levei o propósito
que, de manhã, o sabia perfeitamente. Convenci-me que aquela era a língua mais
fácil do mundo e saí; mas não tão cedo que não me encontrasse com o encarregado
dos aluguéis dos cômodos:
— Senhor Castelo, quando salda a sua conta?
Respondi-lhe então eu, com a mais encantadora esperança:
— Breve... Espere um pouco... Tenha paciência... Vou ser
nomeado professor de javanês, e... Por aí o homem interrompeu-me:
— Que diabo vem a ser isso, Senhor Castelo?
Gostei da diversão e ataquei o patriotismo do homem:
— É uma língua que se fala lá pelas bandas do Timor. Sabe
onde é?
Oh! alma ingênua! O homem esqueceu-se da minha dívida e
disse-me com aquele falar forte dos portugueses:
— Eu cá por mim, não sei bem; mas ouvi dizer que são umas
terras que temos lá para os lados de Macau. E o senhor sabe isso, Senhor
Castelo?
Animado com esta saída feliz que me deu o javanês, voltei a
procurar o anúncio. Lá estava ele. Resolvi animosamente propor-me ao
professorado do idioma oceânico. Redigi a resposta, passei pelo Jornal e lá
deixei a carta. Em seguida, voltei à biblioteca e continuei os meus estudos de
javanês. Não fiz grandes progressos nesse dia, não sei se por julgar o alfabeto
javanês o único saber necessário a um professor de língua malaia ou se por ter
me empenhado mais na bibliografia e história literária do idioma que ia
ensinar.
Ao cabo de dois dias, recebia eu uma carta para ir falar ao
doutor Manuel Feliciano Soares Albernaz, Barão de Jacuecanga, à Rua Conde de
Bonfim, não me recordo bem que número. E preciso não te esqueceres que
entrementes continuei estudando o meu malaio, isto é, o tal javanês. Além do
alfabeto, fiquei sabendo o nome de alguns autores, também perguntar e responder
"como está o senhor?" - e duas ou três regras de gramática, lastrado
todo esse saber com vinte palavras do léxico.
Não imaginas as grandes dificuldades com que lutei, para
arranjar os quatrocentos réis da viagem! É mais fácil - podes ficar certo -
aprender o javanês... Fui a pé. Cheguei suadíssimo; e, Com maternal carinho, as
anosas mangueiras, que se perfilavam em alameda diante da casa do titular, me
receberam, me acolheram e me reconfortaram. Em toda a minha vida, foi o único
momento em que cheguei a sentir a simpatia da natureza...
Era uma casa enorme que parecia estar deserta; estava mal
tratada, mas não sei porque me veio pensar que nesse mau tratamento havia mais
desleixo e cansaço de viver que mesmo pobreza. Devia haver anos que não era
pintada. As paredes descascavam e os beirais do telhado, daquelas telhas
vidradas de outros tempos, estavam desguarnecidos aqui e ali, como dentaduras
decadentes ou mal cuidadas.
Olhei um pouco o jardim e vi a pujança vingativa com que a
tiririca e o carrapicho tinham expulsado os tinhorões e as begônias. Os crótons
continuavam, porém, a viver com a sua folhagem de cores mortiças. Bati.
Custaram-me a abrir. Veio, por fim, um antigo preto africano, cujas barbas e
cabelo de algodão davam à sua fisionomia uma aguda impressão de velhice, doçura
e sofrimento.
Na sala, havia uma galeria de retratos: arrogantes senhores
de barba em colar se perfilavam enquadrados em imensas molduras douradas, e
doces perfis de senhoras, em bandós, com grandes leques, pareciam querer subir
aos ares, enfunadas pelos redondos vestidos à balão; mas, daquelas velhas
coisas, sobre as quais a poeira punha mais antiguidade e respeito, a que gostei
mais de ver foi um belo jarrão de porcelana da China ou da Índia, como se diz.
Aquela pureza da louça, a sua fragilidade, a ingenuidade do desenho e aquele
seu fosco brilho de luar, diziam-me a mim que aquele objeto tinha sido feito
por mãos de criança, a sonhar, para encanto dos olhos fatigados dos velhos
desiludidos...
Esperei um instante o dono da casa. Tardou um pouco. Um
tanto trôpego, com o lenço de alcobaça na mão, tomando veneravelmente o simonte
de antanho, foi cheio de respeito que o vi chegar. Tive vontade de ir-me
embora. Mesmo se não fosse ele o discípulo, era sempre um crime mistificar
aquele ancião, cuja velhice trazia à tona do meu pensamento alguma coisa de
augusto, de sagrado. Hesitei, mas fiquei.
— Eu sou, avancei, o professor de javanês, que o senhor
disse precisar.
— Sente-se, respondeu-me o velho. O senhor é daqui, do Rio?
— Não, sou de Canavieiras.
— Como? fez ele. Fale um pouco alto, que sou surdo, — Sou de
Canavieiras, na Bahia, insisti eu. — Onde fez os seus estudos?
— Em São Salvador.
— Em onde aprendeu o javanês? indagou ele, com aquela
teimosia peculiar aos velhos.
Não contava com essa pergunta, mas imediatamente arquitetei
uma mentira. Contei-lhe que meu pai era javanês. Tripulante de um navio
mercante, viera ter à Bahia, estabelecera-se nas proximidades de Canavieiras
como pescador, casara, prosperara e fora com ele que aprendi javanês.
— E ele acreditou? E o físico? perguntou meu amigo, que até
então me ouvira calado.
— Não sou, objetei, lá muito diferente de um javanês. Estes
meus cabelos corridos, duros e grossos e a minha pele basané podem dar-me muito
bem o aspecto de um mestiço de malaio...Tu sabes bem que, entre nós, há de
tudo: índios, malaios, taitianos, malgaches, guanches, até godos. É uma
comparsaria de raças e tipos de fazer inveja ao mundo inteiro.
— Bem, fez o meu amigo, continua.
— O velho, emendei eu, ouviu-me atentamente, considerou
demoradamente o meu físico, pareceu que me julgava de fato filho de malaio e
perguntou-me com doçura:
— Então está disposto a ensinar-me javanês?
— A resposta saiu-me sem querer: — Pois não.
— O senhor há de ficar admirado, aduziu o Barão de
Jacuecanga, que eu, nesta idade, ainda queira aprender qualquer coisa, mas...
— Não tenho que admirar. Têm-se visto exemplos e exemplos
muito fecundos... ?
— O que eu quero, meu caro senhor....
— Castelo, adiantei eu. — O que eu quero, meu caro Senhor
Castelo, é cumprir um juramento de família. Não sei se o senhor sabe que eu sou
neto do Conselheiro Albernaz, aquele que acompanhou Pedro I, quando abdicou.
Voltando de Londres, trouxe para aqui um livro em língua esquisita, a que tinha
grande estimação. Fora um hindu ou siamês que lho dera, em Londres, em
agradecimento a não sei que serviço prestado por meu avô. Ao morrer meu avô,
chamou meu pai e lhe disse: "Filho, tenho este livro aqui, escrito em
javanês. Disse-me quem mo deu que ele evita desgraças e traz felicidades para
quem o tem. Eu não sei nada ao certo. Em todo o caso, guarda-o; mas, se queres
que o fado que me deitou o sábio oriental se cumpra, faze com que teu filho o
entenda, para que sempre a nossa raça seja feliz." Meu pai, continuou o
velho barão, não acreditou muito na história; contudo, guardou o livro. Às
portas da morte, ele mo deu e disse-me o que prometera ao pai. Em começo, pouco
caso fiz da história do livro. Deitei-o a um canto e fabriquei minha vida.
Cheguei até a esquecer-me dele; mas, de uns tempos a esta parte, tenho passado
por tanto desgosto, tantas desgraças têm caído sobre a minha velhice que me
lembrei do talismã da família. Tenho que o ler, que o compreender, se não quero
que os meus últimos dias anunciem o desastre da minha posteridade; e, para
entendê-lo, é claro, que preciso entender o javanês. Eis aí.
Calou-se e notei que os olhos do velho se tinham orvalhado.
Enxugou discretamente os olhos e perguntou-me se queria ver o tal livro.
Respondi-lhe que sim. Chamou o criado, deu-lhe as instruções e explicou-me que
perdera todos os filhos, sobrinhos, só lhe restando uma filha casada, cuja
prole, porém, estava reduzida a um filho, débil de corpo e de saúde frágil e
oscilante.
Veio o livro. Era um velho calhamaço, um in-quarto antigo,
encadernado em couro, impresso em grandes letras, em um papel amarelado e
grosso. Faltava a folha do rosto e por isso não se podia ler a data da
impressão. Tinha ainda umas páginas de prefácio, escritas em inglês, onde li
que se tratava das histórias do príncipe Kulanga, escritor javanês de muito
mérito.
Logo informei disso o velho barão que, não percebendo que eu
tinha chegado aí pelo inglês, ficou tendo em alta consideração o meu saber
malaio. Estive ainda folheando o cartapácio, à laia de quem sabe magistralmente
aquela espécie de vasconço, até que afinal contratamos as condições de preço e
de hora, comprometendo-me a fazer com que ele lesse o tal alfarrábio antes de
um ano.
Dentro em pouco, dava a minha primeira lição, mas o velho
não foi tão diligente quanto eu. Não conseguia aprender a distinguir e a
escrever nem sequer quatro letras. Enfim, com metade do alfabeto levamos um mês
e o Senhor Barão de Jacuecanga não ficou lá muito senhor da matéria: aprendia e
desaprendia.
A filha e o genro (penso que até aí nada sabiam da história
do livro) vieram a ter notícias do estudo do velho; não se incomodaram. Acharam
graça e julgaram a coisa boa para distraí-lo.
Mas com o que tu vais ficar assombrado, meu caro Castro, é
com a admiração que o genro ficou tendo pelo professor de javanês. Que coisa
Única! Ele não se cansava de repetir: “É um assombro! Tão moço! Se eu soubesse
isso, ah! onde estava!”
O marido de Dona Maria da Glória (assim se chamava a filha
do barão), era desembargador, homem relacionado e poderoso; mas não se pejava
em mostrar diante de todo o mundo a sua admiração pelo meu javanês. Por outro
lado, o barão estava contentíssimo. Ao fim de dois meses, desistira da
aprendizagem e pedira-me que lhe traduzisse, um dia sim outro não, um trecho do
livro encantado. Bastava entendê-lo, disse-me ele; nada se opunha que outrem o
traduzisse e ele ouvisse. Assim evitava a fadiga do estudo e cumpria o encargo.
Sabes bem que até hoje nada sei de javanês, mas compus umas
histórias bem tolas e impingi-as ao velhote como sendo do crônicon. Como ele
ouvia aquelas bobagens!...
Ficava extático, como se estivesse a ouvir palavras de um
anjo. E eu crescia aos seus olhos!
Fez-me morar em sua casa, enchia-me de presentes,
aumentava-me o ordenado. Passava, enfim, uma vida regalada.
Contribuiu muito para isso o fato de vir ele a receber uma
herança de um seu parente esquecido que vivia em Portugal. O bom velho atribuiu
a cousa ao meu javanês; e eu estive quase a crê-lo também.
Fui perdendo os remorsos; mas, em todo o caso, sempre tive
medo que me aparecesse pela frente alguém que soubesse o tal patuá malaio. E
esse meu temor foi grande, quando o doce barão me mandou com uma carta ao
Visconde de Caruru, para que me fizesse entrar na diplomacia. Fiz-lhe todas as
objeções: a minha fealdade, a falta de elegância, o meu aspecto tagalo. —
"Qual! retrucava ele. Vá, menino; você sabe javanês!" Fui. Mandou-me
o visconde para a Secretaria dos Estrangeiros com diversas recomendações. Foi
um sucesso.
O diretor chamou os chefes de seção: "Vejam só, um
homem que sabe javanês — que portento!"
Os chefes de seção levaram-me aos oficiais e amanuenses e
houve um destes que me olhou mais com ódio do que com inveja ou admiração. E
todos diziam: "Então sabe javanês? É difícil? Não há quem o saiba
aqui!"
O tal amanuense, que me olhou com ódio, acudiu então:
"É verdade, mas eu sei canaque. O senhor sabe?" Disse-lhe que não e
fui à presença do ministro.
A alta autoridade levantou-se, pôs as mãos às cadeiras,
concertou o pince nez no nariz e perguntou: "Então, sabe javanês?"
Respondi-lhe que sim; e, à sua pergunta onde o tinha aprendido, contei-lhe a
história do tal pai javanês. "Bem, disse-me o ministro, o senhor não deve
ir para a diplomacia; o seu físico não se presta... O bom seria um consulado na
Ásia ou Oceania. Por ora, não há vaga, mas vou fazer uma reforma e o senhor
entrará. De hoje em diante, porém, fica adido ao meu ministério e quero que,
para o ano, parta para Bale, onde vai representar o Brasil no Congresso de
Lingüística. Estude, leia o Hovelacque, o Max Müller, e outros!"
Imagina tu que eu até aí nada sabia de javanês, mas estava
empregado e iria representar o Brasil em um congresso de sábios.
O velho barão veio a morrer, passou o livro ao genro para
que o fizesse chegar ao neto, quando tivesse a idade conveniente e fez-me uma
deixa no testamento.
Pus-me com afã no estudo das línguas maleo-polinésicas; mas
não havia meio!
Bem jantado, bem vestido, bem dormido, não tinha energia
necessária para fazer entrar na cachola aquelas coisas esquisitas. Comprei
livros, assinei revistas: Revue Anthropologique et Linguistique, Proceedings of
the English-Oceanic Association, Archivo Glottologico Italiano, o diabo, mas
nada! E a minha fama crescia. Na rua, os informados apontavam-me, dizendo aos
outros: "Lá vai o sujeito que sabe javanês." Nas livrarias, os
gramáticos consultavam-me sobre a colocação dos pronomes no tal jargão das
ilhas de Sonda. Recebia cartas dos eruditos do interior, os jornais citavam o
meu saber e recusei aceitar uma turma de alunos sequiosos de entenderem o tal
javanês. A convite da redação, escrevi, no Jornal do Comércio um artigo de
quatro colunas sobre a literatura javanesa antiga e moderna...
— Como, se tu nada sabias? interrompeu-me o atento Castro.
— Muito simplesmente: primeiramente, descrevi a ilha de
Java, com o auxílio de dicionários e umas poucas de geografias, e depois citei
a mais não poder.
— E nunca duvidaram? perguntou-me ainda o meu amigo.
— Nunca. Isto é, uma vez quase fico perdido. A polícia
prendeu um sujeito, um marujo, um tipo bronzeado que só falava uma língua
esquisita. Chamaram diversos intérpretes, ninguém o entendia. Fui também
chamado, com todos os respeitos que a minha sabedoria merecia, naturalmente.
Demorei-me em ir, mas fui afinal. O homem já estava solto, graças à intervenção
do cônsul holandês, a quem ele se fez compreender com meia dúzia de palavras
holandesas. E o tal marujo era javanês — uf!
Chegou, enfim, a época do congresso, e lá fui para a Europa.
Que delícia! Assisti à inauguração e às sessões preparatórias. Inscreveram-me
na seção do tupi guarani e eu abalei para Paris. Antes, porém, fiz publicar no
Mensageiro de Bale o meu retrato, notas biográficas e bibliográficas. Quando
voltei, o presidente pediu-me desculpas por me ter dado aquela seção; não
conhecia os meus trabalhos e julgara que, por ser eu americano brasileiro, me
estava naturalmente indicada a seção do tupi- guarani. Aceitei as explicações e
até hoje ainda não pude escrever as minhas obras sobre o javanês, para lhe
mandar, conforme prometi.
Acabado o congresso, fiz publicar extratos do artigo do
Mensageiro de Bale, em Berlim, em Turim e Paris, onde os leitores de minhas
obras me ofereceram um banquete, presidido pelo Senador Gorot. Custou-me toda
essa brincadeira, inclusive o banquete que me foi oferecido, cerca de dez mil
francos, quase toda a herança do crédulo e bom Barão de Jacuecanga.
Não perdi meu tempo nem meu dinheiro. Passei a ser uma
glória nacional e, ao saltar no cais Pharoux, recebi uma ovação de todas as
classes sociais e o presidente da república, dias depois, convidava-me para
almoçar em sua companhia.
Dentro de seis meses fui despachado cônsul em Havana, onde
estive seis anos e para onde voltarei, a fim de aperfeiçoar os meus estudos das
línguas da Malaia, Melanésia e Polinésia.
— É fantástico, observou Castro, agarrando o copo de
cerveja.
— Olha: se não fosse estar contente, sabes que ia ser?
— Que?
— Bacteriologista eminente. Vamos?
— Vamos.
Gazeta da Tarde, Rio.28-4-l9ll.
Fim
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