Se acaso percorrêssemos a trajetória cultural dos homens, seria inevitável a constatação de registros de histórias e narrativas que buscam explicar a alteridade humana e os fenômec Este domínio é o que tradicionalmente, desde Todorov, Bessière, Bravo e Luthi, dentre outros, tem-se designado maravilhoso, e dele, há tempos, fazem parte, frequentemente, os seres que nomeamos bruxas e fadas. A modernidade exilou tais narrativas ao âmbito do inverossímel, mas não custa lembrar que, no período medieval, o termo maravilhoso abrigava relatos julgados verossímeis. Outrossim, a palavra fada prende-se, etimologicamente a fatum, isto é destino, em razão de serem assimiladas, em muitas tradições com as Parcas, como bem anotou a história da literatura infantil, de Nelly Novaes Coelho. As bruxas, por sua vez, no sistema feudal e inquisitorial, foram identificadas com a feitiçaria, e logo circunscritas ao campo do maligno, no polo oposto ao das fadas. Rose Marie Muraro soube em seu prefácio ao Malleus Maleficarum (Martelo das feiticeiras) ler os sinais de dominação não apenas da sexualidade, mas também do feminino na mulher.
Contudo, a literatura soube criar territórios para suas aparições. Bruxas e fadas vêm sendo constantemente reinterpretadas, demonstrando seu vigor, e inúmeros são os testemunhos - a exemplo do sucesso editorial da saga Harry Potter, ou ainda, em contexto brasileiro, a narrativa Uxa, ora fada ora bruxa (Sylvia Orthof), a peça teatral A Bruxinha que era boa (Maria Clara Machado), para mencionar apenas três títulos de uma larga lista, que ilustra, na atualidade, a potencia simbólica dessas personagens. Efetivamente, como já sinalizou Jack Zipes (Os contos de fadas e a arte da subversão), sua vitalidade atemporal tem permitido suas constantes traduções/recriações tanto no âmbito literário, quanto em séries televisivas e fílmicas, integrando vasto repertório das artes, endereçadas ou não ao público infantil. Desse modo, e não fortuitamente, revelam-se massivamente presentes na produção estética contemporânea.
Entendendo, portanto, o maravilhoso como uma das expressões do insólito, termo que compreende vasto espectro, abrangendo o que se insurge e rompe com a razão ocidental - como o fantástico, o estranho, os contos de fadas, o feérico, o gótico, os contos de horror, o realismo maravilhoso, o realismo mágico, as obras de fantasia (fantasy) -, convidamos pesquisadores a enviarem textos que versem sobre a temática das bruxas e das fadas nas literaturas do insólito ficcional, bem como em outras linguagens estéticas (ilustrações, HQs, cinema, séries televisivas, artes plásticas).
Editores:
Eliana Yunes (PUCRio)
Fabianna Simão Bellizzi Carneiro (UFCAT)
Sylvia Maria Trusen (UFPA)
Submissão de artigos até: 28 / 03/ 2026
Emissão das cartas de aceite ou rejeição até: 01 / 06/ 2026
Publicação do nº da revista até: 04 / 09/ 2026
Para mais informações, acesse: https://www.e-publicacoes.uerj.br/cadernoseminal
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