Frederico Lima #32

"Espero que você possa entender, e até mesmo destruir, alguns dos meus medos mais bobos e infantis. Espero que você consiga perceber que eu tenho medo de perder tudo aquilo que eu amo, mas que sou orgulhosa demais para admitir. É que eu cansei de correr atrás de quem não me quis, e isso me fez ficar assim, meio receosa, cismada demais. E, por favor, perceba isso por conta própria, pois eu nunca direi para você."

Do livro Garota Labirinto, de Frederico Lima


Frederico Lima #31

"Admito, eu sou frágil em tentar ser forte. Tento não chorar, mas nem sempre eu consigo. É que na minha estrutura de quebra-cabeça faltam alguns pedaços, e esses pedaços me fazem ser assim, incompleto. E nessa minha incompletude diária, eu tento preencher o vazio, quase sempre, com pedaços que não se encaixam direito, por isso eu sofro, por isso eu choro, e é por isso que nós amamos, porque tentamos nos encaixar nos espaços vazios dos outros, buscando preencher os nossos." 

Do livro Garota Labirinto, de Frederico Lima



O que significa pré-genital (prãgenital) para a psicanálise?

Para a psicanálise, o adjetivo "pré-genital" qualifica uma variedade de fenômenos psíquicos, incluindo pulsões, organizações libidinais e fixações, que caracterizam os estágios iniciais do desenvolvimento psicossexual, anteriores ao estabelecimento da primazia da zona genital. Durante esse período, que compreende as fases oral, anal e de latência, o investimento libidinal se concentra em zonas erógenas distintas dos órgãos genitais.

A compreensão do período pré-genital é fundamental na teoria psicanalítica, pois as experiências e as possíveis fixações nessas fases iniciais podem influenciar significativamente a formação da personalidade e a predisposição a certas neuroses na vida adulta. A análise das características pré-genitais em um paciente pode fornecer insights valiosos sobre conflitos psíquicos subjacentes e padrões de relacionamento.



O que significa Reparação (Wiedergutmachung) para a psicanálise?

O conceito de Reparação, central na teoria psicanalítica de Melanie Klein (1882-1960), descreve o esforço psíquico do indivíduo no sentido de restituir e "curar" o objeto amado dos danos imaginários infligidos por suas próprias fantasias destrutivas. Segundo Klein, na dinâmica psíquica primitiva, o indivíduo vivencia impulsos agressivos e destrutivos direcionados ao objeto primário, geralmente a figura materna. Essas fantasias de ataque geram no sujeito sentimentos de angústia e culpa depressiva, relacionados à percepção (fantasiada) de ter prejudicado o objeto essencial para sua sobrevivência emocional e física.

O mecanismo de Reparação surge como uma tentativa de aliviar essa angústia e culpa. Através de um esforço inconsciente, o indivíduo busca reconstruir e reparar o objeto materno, tanto em sua representação interna (o objeto internalizado) quanto em sua realidade externa. Esse processo reparatório fantasístico é crucial para a elaboração bem-sucedida da posição depressiva, um estágio do desenvolvimento psíquico kleiniano caracterizado pela integração do objeto bom e mau em um todo e pela capacidade de sentir preocupação pelo outro.

O sucesso da Reparação fantasística permite ao ego estabelecer uma identificação mais estável com o objeto benéfico, internalizando suas qualidades positivas e fortalecendo a sensação de segurança interna. Em outras palavras, ao reparar o objeto na fantasia, o indivíduo experiencia um alívio da culpa e fortalece sua relação interna com um objeto amado e não danificado, contribuindo para a integração do ego e a capacidade de amar e se importar com os outros de forma mais plena e realista.

Em suma, a Reparação kleiniana não se limita a um mero ato de "consertar" o dano imaginário, mas representa um processo psíquico fundamental para o desenvolvimento emocional saudável, envolvendo a elaboração da agressividade, a internalização de um objeto bom e a capacidade de sentir responsabilidade e cuidado pelo outro.



Colóquio Cecília Meireles e Lúcio Cardoso

 


A alma errante e fugidia do eu lírico encontra na noite escura o (pre)texto para (re)mover a pena. Num processo de eterno retorno Nietzscheano, alucina palavras de in(confidência) em estrutura introspectiva e em atmosfera política. O não-estar e o não-pertencer permitem romper um pesadelo estrutural de modelos (im)postos para explorar o psíquico e o moral. As indagações metafísicas, sociais e intimistas nas escritas de Lúcio Cardoso e Cecília Meireles brincam com a lógica por meio de estruturas simbólicas, ritmos e métricas. Às vésperas do mês dos namorados, oferecemos à Comunidade Acadêmica desfrutar "as mãos da noite quebrando os talos do pensamento."

O LIGEPSI (Grupo de Pesquisa em Literatura, Gênero e Psicanálise da UFPB), em parceria com o Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, o Programa de Pós-Graduação em Letras, o Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, e o Laboratório de Estudos Literários e Psicanalíticos, realizará, no dia 28 de maio de 2025, o Colóquio Cecília Meireles e Lúcio Cardoso, evento que será promovido na modalidade híbrida (on-line e presencial), com vistas a homenagear a literatura intimista de dois dos maiores nomes da escrita ficcional brasileira, Cecília Meireles e Lúcio Cardoso.

A inscrição no Colóquio é gratuita para todas as atividades: palestras, mesas-redondas e simpósios temáticos (para apresentação de trabalhos na modalidade comunicação oral), com emissão de certificação para apresentadores e ouvintes, além da publicação, em formato e-book, dos trabalhos apresentados.


O que significa Interpretação (Deutung) para a psicanálise?

O termo "interpretação", traduzido da expressão alemã deutung, embora extraído do vocabulário comum, adquire uma profundidade singular no contexto psicanalítico, notavelmente a partir da obra seminal de Sigmund Freud, A Interpretação dos Sonhos, alçada pelo neurologista como sendo a fundadora da sua psicoterapia. Nela, Freud estabelece a interpretação como a ferramenta metodológica central através da qual a psicanálise busca desvelar o significado subjacente, o conteúdo latente do sonho. O objetivo primordial desse esforço de decifração é trazer à luz o desejo inconsciente que se disfarça nas intrincadas narrativas oníricas de um sujeito.

Expandindo essa concepção original, o termo "interpretação" na psicanálise abrange qualquer intervenção clínica que tenha como meta auxiliar o analisando a apreender a significação inconsciente que permeia seus atos, seus discursos e suas angústias. Essa busca por compreensão não se restringe ao domínio dos sonhos, estendendo-se a diversas manifestações do inconsciente que irrompem na experiência consciente. Assim, a interpretação se aplica à análise de um dito aparentemente casual, de um lapso de linguagem revelador, de um ato falho que fornece indícios de uma intenção oculta, das resistências que obstaculizam o processo analítico, e dos intrincados fenômenos da transferência, onde padrões relacionais inconscientes são reeditados na relação terapêutica.

Em essência, a interpretação psicanalítica não se limita a uma mera tradução literal, mas envolve um processo complexo de escuta atenta, de estabelecimento de associações e de construção de sentido, sempre levando em consideração a singularidade da história e da dinâmica psíquica de cada indivíduo. Através da interpretação, o analista busca oferecer ao analisando elementos que possibilitem um novo olhar sobre seu próprio funcionamento psíquico, promovendo um maior autoconhecimento e a possibilidade de elaboração dos seus conflitos inconscientes.



O que é Conteúdo Latente (latenter Inhalt)?

O conceito de Conteúdo Latente foi desenvolvido como uma chave fundamental para desvendar os enigmas do inconsciente, especialmente no domínio onírico. Ele representa o núcleo de significações ocultas que a análise busca desenterrar por trás da superfície manifesta de uma produção inconsciente, notavelmente o sonho.

Inicialmente, o sonho se apresenta como uma narrativa visual, um fluxo aparentemente desconexo de imagens e eventos, denominado por Freud de Conteúdo Manifesto. Contudo, a lente da análise psicanalítica busca penetrar essa fachada, revelando que essa "história" imagética é, na verdade, uma elaboração, uma espécie de disfarce que protege o indivíduo do impacto direto de seus desejos e impulsos mais profundos.

Ao ser decifrado através do trabalho analítico, mediante técnicas como a livre associação e a interpretação dos símbolos, o sonho passa por uma metamorfose radical. Ele deixa de ser uma mera sequência de imagens disformes e sem uma aparente significação para se revelar como uma intrincada organização de pensamentos, um discurso carregado de significado. Essa transformação revela que, subjacente à narrativa onírica, reside a expressão condensada e deslocada de um ou múltiplos desejos inconscientes.

O Conteúdo Latente para Freud, portanto, é o verdadeiro cerne do sonho, a realização disfarçada de um desejo. Ele nos permite acessar as dinâmicas psíquicas subjacentes, as motivações ocultas e os conflitos internos que moldam nossa experiência consciente. Compreender o Conteúdo Latente é essencial para a psicanálise, pois oferece um caminho privilegiado para a compreensão da arquitetura do inconsciente e para o processo terapêutico de trazer à luz e integrar conteúdos psíquicos outrora inacessíveis.