O que é COMPULSÃO À REPETIÇÃO para a psicanálise?

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A compulsão à repetição é a tendência inconsciente e incontrolável de um indivíduo para reencenar, reviver e repetir experiências dolorosas, traumáticas ou desagradáveis do seu passado, mesmo quando essas repetições não trazem nenhum prazer aparente e só geram sofrimento.

Freud se deparou com a compulsão à repetição ao observar fenômenos que não se encaixavam em sua teoria inicial, que era centrada no Princípio do Prazer. Segundo esse princípio, o aparelho psíquico tende a buscar o prazer e evitar o desprazer. No entanto, ele notou que os pacientes frequentemente repetiam comportamentos e experiências que eram, evidentemente, penosos.

Ele identificou esse padrão em várias situações clínicas:

  • Sonhos de Traumatizados: Pacientes que haviam sobrevivido a traumas de guerra (neuroses de guerra) ou acidentes repetiam em seus pesadelos o evento traumático, em vez de sonhar com o cumprimento de desejos.

  • Ações Inexplicáveis: Indivíduos que viviam em um ciclo de relacionamentos abusivos, terminando com parceiros que se assemelhavam a figuras parentais violentas.

  • O "Destino" do Sujeito: Pessoas que pareciam sempre se envolver nos mesmos problemas, como se estivessem destinadas a fracassar ou a serem rejeitadas.

A compulsão à repetição, portanto, não podia ser explicada apenas pela busca de prazer. Ela apontava para uma força mais arcaica e profunda, que operava "além do princípio do prazer", um conceito que Freud explorou em sua obra de 1920.

A compulsão à repetição é vista como uma tentativa inconsciente do sujeito de dominar um evento traumático ou uma experiência que, na época em que ocorreu, foi avassaladora e não pôde ser elaborada psiquicamente. O indivíduo, incapaz de integrar a dor de forma consciente, reencena-a na esperança de, finalmente, conseguir controlá-la.

É como se a psique estivesse presa em um loop, revivendo a cena traumática na esperança de um final diferente. O problema é que, ao repeti-la, a pessoa apenas se encontra de volta no mesmo ciclo de sofrimento.

A compulsão está profundamente ligada às pulsões de morte, que Freud introduziu em sua teoria. A pulsão de morte, ou Thanatos, é uma força que tende a levar a vida de volta a um estado inorgânico, de não-tensão. A repetição é uma manifestação dessa força, um impulso para retornar a um estado anterior, mesmo que esse estado seja o de uma experiência traumática.

Na psicanálise, a compulsão à repetição se manifesta no fenômeno da transferência. O paciente repete no relacionamento com o analista padrões de relacionamento e conflitos que viveu com figuras importantes de sua infância, como os pais.

Por exemplo, um paciente que sentia uma profunda necessidade de aprovação parental pode tentar, inconscientemente, obter a aprovação do analista. O trabalho do analista é justamente notar essa repetição, torná-la consciente e ajudar o paciente a "elaborá-la", ou seja, a dar um novo sentido e a quebrar o ciclo.

A psicanálise oferece um espaço seguro para que o indivíduo possa, pela primeira vez, enfrentar e nomear a dor que a compulsão o forçava a reencenar sem controle, possibilitando a passagem de uma simples repetição para a lembrança consciente e, assim, a libertação do seu "destino" traumático.

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