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Chamada para o Dossiê “Poesia: território em partilha”


Em um livro cuja primeira edição data de 1956, Brito Broca propôs-se pensar o que referiu como “a vida literária no Brasil”. Seu título demarcava, ainda, uma referência temporal: 1900. Um dos elementos centrais ao trabalho diz respeito ao papel desempenhado pela imprensa nas transformações pelas quais então passavam os mecanismos de legitimação da prática literária; papel desempenhado também pelos cafés, pelas redações, pelos cenáculos e diferentes agremiações: trata-se de uma experiência ruidosa, vivida coletivamente, composta por debates e polêmicas, camaradagens, encontros, jantares. Esses espaços e essas formas de sociabilidade também foram explorados por Luís Edmundo, em seu O Rio de Janeiro de meu tempo (2003). Em outro contexto, Rémy de Gourmont vislumbrou na produção literária que lhe era contemporânea algo que escaparia à identificação de nomes de autores e títulos de obras, sendo principalmente o resultado de um trabalho coletivo, periódico, midiático, disseminado entre uma multidão de colaboradores e resultando em modificações profundas na técnica da poesia francesa, mas não a ela restritos (como os movimentos em direção ao verso livre e ao monólogo interior, usualmente associados a Édouard Dujardin). Em seu estudo sobre as petites revues do simbolismo francês, Yoan Vérilhac (2010) defende que o trabalho do simbolismo estaria inscrito na história literária como um trabalho sobre a literatura, sobre a coisa literaria em seu conjunto: sua história, seus modos de funcionamento, suas técnicas, seus desafios. Seria um esforço meta-discursivo – um discurso sobre um discurso, sobre suas formas, sua evolução, as práticas sociais que o acompanham: o que poderia ser subsumido pela palavra crítica. Poderíamos, ainda, referir os estudos de Vera Lins sobre Gonzaga Duque, ou os diferentes trabalhos que se reportam ao aspecto coletivo, gregário do simbolismo local. Como a tese em que Mariana Albuquerque Gomes (2021) aborda experiências estéticas simbolistas e modernistas em revistas literárias na cena finissecular, em quatro contextos distintos:  as experiências estéticas simbolistas nas revistas La Vogue (1886) e Le Symboliste (1886), em Paris; as conquistas das revistas Pierrot (1890), Galaxia (1896) e Rosa-Cruz (1901/1904), no Rio de Janeiro; o modernismo hispano-americano da Revista de America (1894), em Buenos Aires; e a Revista Azul (1894), na Cidade do México. Reivindicando a necessidade de uma história “da comunicação literária” (que implicaria os elementos elencados), Alain Vaillant (2003) chega mesmo a se indagar se a “literatura” não teria sido uma criação da civilização midiática. Registra, ao menos, ser na confrontação violenta e simbólica entre imprensa e cultura de massa que se teria alcançado a “autonomia” do objeto literário. Referindo-se a um contexto mais próximo de nossos dias, Maria Lúcia de Barros Camargo (1999) observou, em periódicos dedicados à publicação de poesia, para além de objetivos como informar, atualizar, educar (sinalizadores do cumprimento de um projeto moderno), a também moderna associação à criação e manutenção de um mercado, além das relações com a cultura de massas e outros produtos culturais. Assim, considerando a complexidade desse amplo leque de relações, o presente dossiê da revista Texto Poético pretende abrir espaço para reflexões que, a partir do quadro proposto, pensem:

a) as relações entre a produção poética e a imprensa, os grupos reunidos em cafés, redações, cenáculos e diferentes agremiações, seja no século XIX ou em grupos estabelecidos do século XX aos nossos dias;

b) o poema derivado dessas relações com diferentes formas de sociabilidade;

c) eventuais reconfigurações do literário associadas a esses diálogos;

d) implicações simbólicas e/ou confrontos entre poesia, imprensa e cultura de massa, novos suportes e novos veículos de poético;

e) a relevância de coletivos reunidos em revistas e periódicos para a criação e circulação de poesia no período histórico enfocado, desde o fim do XIX até os dias atuais;

f) a proposição de campos teóricos e/ou conceituais em disputa nesses espaços e instâncias coletivos.


Organizadores: Francine Fernandes Weiss Ricieri (UNIFESP) e Waltencir Alves de Oliveira (UFPR)

Data limite para submissão: 30/01/2026

Para mais informações: https://textopoetico.emnuvens.com.br/rtp/announcement/view/55

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