06/10/2025

O que é RESISTÊNCIA para a psicanálise?

A resistência é um dos conceitos mais fundamentais e clinicamente visíveis na psicanálise, sendo a força que se opõe ao trabalho de análise e impede que o conteúdo inconsciente se torne consciente. Originalmente identificada por Sigmund Freud, a resistência não é vista como uma atitude voluntária ou um desafio do paciente, mas sim como uma manifestação da defesa psíquica operando no nível do inconsciente.

Freud se deparou com o fenômeno da resistência no início de sua prática, ao tentar o método catártico com hipnose. Ele observou que, ao pressionar o paciente a lembrar-se de eventos traumáticos ou reprimidos, havia uma força ativa que impedia ou bloqueava essa recordação. Essa força não era a incapacidade de lembrar, mas sim uma recusa inconsciente em permitir que a memória (e os afetos ligados a ela) voltasse à consciência.

A resistência, portanto, é a oposição do ego – frequentemente sob a influência do superego – à revelação de material reprimido que possa causar dor, angústia ou conflito moral. É um mecanismo de defesa em ação, trabalhando para manter o status quo psíquico, mesmo que esse status quo seja a causa do sofrimento neurótico do paciente.

O conceito de resistência está intrinsecamente ligado à repressão. A repressão é o processo ativo e inconsciente pelo qual o ego afasta da consciência (e mantém no inconsciente) ideias, desejos ou lembranças intoleráveis. A resistência é a manifestação clínica dessa repressão.

Quando o trabalho analítico, através de técnicas como a associação livre, se aproxima de um conteúdo reprimido, a resistência aumenta. Ela age como uma barreira protetora contra a ansiedade que o retorno do reprimido inevitavelmente causaria. A psicanálise, ao perturbar o equilíbrio neurótico, confronta o paciente com a ameaça de reviver o conflito original, e a resistência se manifesta para evitar essa dor.

A resistência raramente se manifesta de forma explícita, como um simples "Não quero falar sobre isso". Suas manifestações são sutis e variadas, e cabe ao analista detectá-las:

  • Silêncio: A forma mais óbvia. O paciente paralisa a associação livre, alegando "não ter nada na cabeça" ou "não conseguir pensar em nada".
  • Racionalização e Intelectualização: O paciente fala muito, mas de forma excessivamente lógica, abstrata ou filosófica, evitando qualquer envolvimento emocional com o tema. É uma "fala vazia" que serve para manter o analista e o próprio paciente distantes do afeto real.
  • Mudança de Tópico: Sempre que a conversa se aproxima de um ponto sensível (como o pai, a sexualidade ou a culpa), o paciente subitamente desvia a atenção para um assunto trivial.
  • Atos Falhos: Esquecer horários de sessão, chegar atrasado ou perder o fio da meada do pensamento no momento crucial.
  • Reações Terapêuticas Negativas: O paciente manifesta piora dos sintomas ou se sente desanimado justamente quando a análise está progredindo e se aproximando de uma verdade importante.

Paradoxalmente, para a psicanálise, a resistência não é apenas um obstáculo; é a matéria-prima mais valiosa. O analista não tenta destruí-la à força, mas sim analisá-la.

Freud ensinou que o caminho da resistência aponta diretamente para o conteúdo reprimido. Onde a associação livre para, onde o paciente hesita, onde o silêncio se instala – é ali que reside o conflito central. Ao analisar e interpretar o modo como o paciente resiste, o analista ajuda-o a ganhar insight sobre o mecanismo de defesa, tornando a resistência ego-distônica (estranha ao ego) e, gradualmente, desmantelando-a.

A superação da resistência é, portanto, o cerne do trabalho analítico. É o que permite que o conteúdo inconsciente seja elaborado, integrado e que o sofrimento neurótico possa ser, finalmente, aliviado.

Nenhum comentário :

Nenhum comentário :

Postar um comentário