O que é FANTASIA para a psicanálise?
O conceito de fantasia (ou Phantasie) na psicanálise é essencialmente diferente do seu uso na linguagem comum, onde é sinônimo de devaneio ou imaginação passageira. Para a psicanálise, a fantasia é uma construção psíquica inconsciente que o indivíduo utiliza para estruturar sua realidade, satisfazer desejos reprimidos e dar sentido aos seus conflitos internos.
Freud concebeu a fantasia como uma cena imaginária, um roteiro no qual o sujeito está sempre presente, vivenciando um drama particular. O propósito principal da fantasia é servir como um refúgio ou compensação para a insatisfação que o indivíduo encontra na realidade externa.
A fantasia opera sob o princípio do prazer, onde as proibições, as faltas e as frustrações impostas pela realidade são magicamente superadas ou negadas. O desejo que foi frustrado encontra na fantasia uma satisfação alucinatória ou imaginária, ainda que incompleta.
O auge da formação das fantasias ocorre na infância, particularmente durante o período edípico. As grandes fantasias inconscientes giram em torno da origem, da sexualidade e da relação com os pais. Elas não são invenções conscientes, mas sim tentativas da criança de responder a grandes enigmas que sua mente ainda não consegue processar de forma lógica:
Fantasias de Cena Primária: O que os pais fazem quando estão sozinhos (a concepção e o nascimento do sujeito).
Fantasias de Castração: Ligadas ao medo da perda e às diferenças sexuais.
Fantasias de Sedação: Ligadas a desejos de ser objeto sexual dos pais.
Essas fantasias infantis, quando reprimidas, permanecem ativas no inconsciente e continuam a influenciar o comportamento, a escolha de parceiros, as aspirações e os sintomas na vida adulta.
Melanie Klein expandiu significativamente o conceito, introduzindo a ideia de Fantasia Inconsciente. Para Klein, a fantasia é a expressão mental dos instintos e pulsões. Toda atividade instintiva (sexual ou agressiva) possui uma representação psíquica que é a fantasia.
No bebê, por exemplo, o impulso destrutivo contra o seio que frustra (pulsão de morte) é acompanhado da fantasia de morder e destruir o seio. A fantasia, nesse sentido, não é apenas um sonho acordado; é a atividade mental contínua que acompanha a pulsão e a forma como o ego primitivo entende suas relações de objeto (as pessoas importantes em sua vida).
Para Klein, as fantasias inconscientes são a base da vida mental e são cruciais para a formação das primeiras posições (esquizoparanoide e depressiva), determinando como o indivíduo se relaciona com o mundo e com a ansiedade.
Na clínica, a fantasia raramente é relatada diretamente; ela está oculta por trás do sintoma. O sintoma neurótico, na verdade, é a tentativa fracassada de realizar a fantasia sem violar as exigências da realidade.
O trabalho do analista, ao longo da associação livre, é reconstruir essas cenas imaginárias e inconscientes. Ao trazer a fantasia para a consciência, o sujeito pode confrontá-la, entender como ela está moldando sua realidade e, finalmente, elaborar os desejos e medos que a criaram. A análise da fantasia permite que o indivíduo passe de um "viver o roteiro" para um "conhecer o roteiro" e, assim, reescrevê-lo.
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